Rascunho

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O Rei menino

Carlos Drummond de Andrade





O estandarte do Rei não é de púrpura e brocado,
é um lírio flutuante sobre o caos,
onde ambições se digladiam
e ódios se estraçalham.
O Rei vem cumprir o anúncio de Isaías:
vem para evangelizar os brutos,
consolar os que choram,
exaltar os cobertos de cinza,
desentranhar o sentido exato da paz,
magnificar a justiça.

Entre Belém e Judá e Wall Street,
no torvelinho de negações e equívocos,
a vergasta de luz deixa atônitos os fariseus.
Cegos distinguem o sinal,
surdos captam a melodia de anjos-cantadores,
mudos descobrem o movimento da palavra.
O Rei sem manto e sem jóias,
nu como folha de erva,
distribui riquezas não tituladas.
Oferece a transparência
da alma liberta de cuidados vis.
As coisas já não são as antigas coisas
de perecível beleza
e o homem não é mais cativo de sua sombra.
A limitação dos seres foi vencida
Por uma alegria não censurada,
graça de reinventar a Terra,
antes castigo e exílio,
hoje flecha em direção infinita.

O Rei, criança,
permanecerá criança mesmo sob vestes trágicas
porque assim o vimos e queremos,
assim nos curvamos diante do seu berço
tecido de palha, vento e ar.
Seu sangrento destino prefixado não dilui
a luminosidade desta cena.
O menino, apenas um menino,
acima das filosofias, da cibernética e dos dólares,
sustenta o peso do mundo
na palma ingênua das mãos.

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Teste



Em breve novidades no #recortes


"O homem sem memória não chega a ser,porque raiz nenhuma frutifica-se no espaço...".Affonso Romano de Sant'anna(Canto e poesia - 1965)

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Coisas que crianças dizem

Rubem Alves


As crianças dizem coisas deliciosas. O menininho viajava de avião pela primeira vez. O voo partira à noite e ele nada viu. Logo dormiu. Quando acordou pela manhã, olhou para fora, o céu absolutamente azul para cima e, lá embaixo, nuvens brancas navegantes... Assustado, disse ao pai: "Papai, o céu caiu lá embaixo...". A avó, que morava num sítio, estava recebendo a primeira visita da netinha que morava num apartmamento. Levou-a à horta, coisa que a menina nunca vira. Agachou-se diante de um carneiro, retirou a terra fofa e arrancou algumas cenouras. Comentário da menininha: "Você guarda as suas cenouras num lugar esquisito. Em casa nós guardamos na geladeira...". A menina, baseada em sólidos argumentos linguísticos, discordava: "Não, o nome não pode ser canteiro.Canteiro é um lugar de canto. Um lugar onde crescem as plantas deve se chamar planteiro...". Hora do jantar, o menininho de cinco anos tomava a sopa. Fez então, ao pai, uma pergunta teológica: "Papai, onde está Deus?". O pai respondeu segundo o catecismo: "Está em todos os lugares, meu filho". Rápido, o menino concluiu: "Está então nesta colher de sopa que estou tomando?". O menino visitava a fazenda pela primeira vez. De manhã, todos ao lugar onde se fazia a ordenha das vacas, o leite jorrando espumante das exuberantes tetas do manso animal. Todos bebiam do leite quente. Chegada a vez do menino, ele recusou o copo de leite e se pôs a chorar: "Não quero leite de bicho. Quero tomar leite de saquinho...". Pergunta metafísica de uma menininha: "Para onde vão os dias que passam?". Sim, eu me pergunto: para onde foram os dias que vivi?

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